Lembro-me perfeitamente de quando entrei pela primeira vez em uma salade aula de escola pública. Não falo isso sobre a perspectiva dos estágios acadêmicos supervisionados ou de vivências profissionais em escolasparticulares, onde a realidade é bem menos impactante. Estes não contam quase nada em nível de experiência profissional quando nos deparamos com a realidade escolar pública. Falo do fato de passar em um concurso público e atuar como professor da Educação Básica, especificamente, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e ser literalmente incumbido de assumir uma turma com quase trinta alunos, sem apoio, sem recursos, com diversas realidades socioculturais dos estudantes, com a necessidade de inclusão de alunos portadores de necessidades especiais, assim como currículo, políticas educacionais descontínuas, além de ser desvalorizado social e profissionalmente.
Fazendo uma retrospectiva dos anos de graduação no curso de licenciatura em Pedagogia e em Letras (também sou formada em Letras – Português/Inglês), percebo que ambos os cursos não me prepararam efetivamente para a realidade da Educação Básica pública. Não me foi assegurada, como afirma Ghedin, Leite e Almeida (2008), uma formação que possibilite ao profissional docente saber lidar com o processo formativo dos alunos em suas várias dimensões, além da cognitiva, englobando a dimensão afetiva, da educação dos sentidos, da estética, da ética e dos valores emocionais. A universidade me deu uma formação carregada de teorias, mas dissociada da prática e da própria realidade escolar pública. Acredito que muitos de meus professores, na época, pareciam nunca ter pisado ou lecionado em uma escola pública. Era perceptível o que Pereira (2006) descreve como “pouca integração entre os sistemas que formam os docentes, as universidades, e os que os absorvem: as redes de ensino fundamental e médio. Essa desarticulação se reflete na dissociação entre teoria e prática” (p. 61-62), o que levou muitos dos meus colegas a abandonarem os cursos de licenciatura.
O que estudávamos na licenciatura se desmanchava quando os poucos que continuaram no curso chegavam no famoso Estágio Supervisionado, onde éramos deixados ao sabor do vento nas escolas públicas. E, antes desse processo, recebíamos uma espécie de treinamento, onde tínhamos que apresentar para os nossos companheiros de sala uma microaula! Nunca fui adepta dessa prática desarticulada e me perguntava o porquê desta, pois na minha cabeça não fazia sentido algum.
O que eu quero dizer com este breve texto é que é normal um jovem professor ou recém concursado da rede pública de ensino da Educação Básica se sentir perdido com as demandas cotidianas de uma sala de aula. É normal questionar-se enquanto profissional, sentir-se frustrado na maioria das vezes e perguntar-se o porquê de sua formação inicial não corresponder com a realidade escolar pública. Muito do que você irá aprender nesse primeiro momento é resultado de práticas educativas e pedagógicas que darão certo ou não. O conselho que eu sempre dou é converse com os professores mais experientes de sua escola, busque cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento, leia, reflita sobre as suas ações, investigue a sua própria prática, converse com a família de seu aluno e o mais importante conheça o seu aluno.
Não se transforme em um profissional amargurado e insensível perante os seus alunos. Aprenda, sorria e compartilhe momentos de alegria com eles. Eu me realizo todos os dias com a escolha de minha profissão e, honestamente, não me vejo fazendo outra coisa que não seja relacionada a sala de aula. Sinto-me feliz quando um aluno me chama de tia ou vibra de alegria quando entro em sala de aula. E isso não tem preço!
Referências bibliográficas:
- GHEDIN, E.; LEITE, Y.; ALMEIDA, M. Formação de professores: caminhos e descaminhos da prática. Brasília: Líber Livro Editora, 2008.
- PEREIRA, J. Formação de professores – pesquisa, representações e poder. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
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